Biomédica relata os desafios em ser negra e para garantir o seu espaço na área da saúde
Há mais de 100 anos a escravidão foi abolida no Brasil, porém ainda há marcas desse período enraizados na sociedade. Apesar de ser uma pauta atual, cenas de preconceito e racismo contra negros são relatadas diariamente, principalmente entre as mulheres. No mês em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a biomédica Jéssica Avelino relata que desde a faculdade já era difícil e percebia um tratamento diferente por parte dos alunos e professores, em uma turma majoritária branca. “Quando se trata de uma mulher negra, as reações são as mais inusitadas”.
Ela conta que sua trajetória na área da saúde se iniciou aos 15 anos de idade quando fez o curso de técnico em enfermagem, onde seu amor por cuidar dos outros se manifestou, e naquele mesmo momento percebeu a diferença que as mulheres negras tinham em um ambiente de trabalho e na sociedade. Assim ela decidiu lutar e se empenhou para conseguir sair desse patamar e cursar a faculdade.
Outro ponto que chama atenção é o fato de haver estranhamento quando uma negra ocupa cargo de chefia ou até mesmo com vários cursos no currículo. Segundo pesquisa realizada pela consultoria Indique Uma Preta e pela empresa Box1824, apenas 8% das mulheres negras brasileiras que trabalham no mercado formal ocupam cargos de gerente, diretora ou sócia proprietária de empresas e menos da metade das mulheres negras exercem trabalho remunerado.
Sócia de uma clínica de estética, em Belo Horizonte, e mesmo depois de formada, Jéssica ainda passa por situações do que é chamado de racismo estrutural. “No meio da saúde é pior, temos poucos médicos e Biomédicos negros. Algumas pessoas quando entram num hospital e veem uma negra de branco, na hora pensam que se trata de uma faxineira e copeira. Nunca levantam a hipótese que pode se tratar de um especialista em saúde”, lamenta.
Desistir jamais!
A biomédica garante que, infelizmente, ainda há muito o que ser feito, mesmo assim ela acredita que é preciso continuar lutando e ocupar espaços onde há maioria branca. “Acredito que atualmente temos melhor acesso à educação se comparado há 15 anos, por exemplo. Mesmo assim, precisamos mostrar de onde e para que viemos. Todos os dias preciso mostrar que sou 3 vezes mais competente que os outros. Também somos capazes de construir uma carreira”, declarou Avelino.
Hoje, a especialista ajuda outras mulheres e homens a cuidarem da autoestima, por meio da sua profissão. Ela conta que atende um grande público negro e acredita que os pacientes se identificam com ela e por isso a alta demanda.
Fonte: Dra. Jéssica Avelino é biomédica Esteta, Toxicologista, Analista clínica, especialista em estética corporal e facial avançada. Atua na Le Clinic Bh, na região da Savassi, e no Instituto Faissal em Belo Horizonte (@drajessicaavelino)