Dona Efigênia – Foto Lucas de Godoy.
Outras duas obras serão finalizadas em janeiro de 2023
O Projeto BomSerá, iniciativa do IA – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto, entregou a primeira casa restaurada à sua proprietária, Dona Efigênia, de 94 anos. A entrega ocorreu no dia 22 de dezembro. As obras tiveram início em junho de 2022 em três casas dos séculos XVIII e XIX, de propriedade de famílias de baixa-renda, as outras edificações serão finalizadas no início de 2023. O projeto, que conta com apoio do Escritório Técnico do IPHAN em Ouro Preto e IFMG – Instituto Federal de Minas Gerais, tem o objetivo de preservar as características históricas e culturais das habitações, mantendo também a segurança dos moradores, já que as construções estavam vulneráveis.
“Uma reforma dessa é muito cara, então às vezes você fica ali naquela falta de qualidade de vida e sem conforto porque a gente nunca ia ter condição de dar uma reforma dessa para a vó. A gente considera o BomSerá como um prêmio”, ressalta Luzia, neta de Dona Efigênia, que mora no bairro Cabeças, em Ouro Preto, há mais de 50 anos, guardando histórias e criando o desejo de ver seu lar com mesmas características históricas mantidas, mas em estado de qualidade viável para uma vida confortável e segura.
Mais que restaurar casas, o BomSerá cumpre um importante papel de capacitar os moradores das edificações que receberam as intervenções, para que possam eles mesmos realizar a manutenção preventiva de suas casas, educando e sensibilizando. Além disso, o projeto contribui para formar mão de obra qualificada para futuramente poder atuar em obras de restauração.
O BomSerá soluciona um grave problema da cidade. Com aproximadamente 80 mil moradores, Ouro Preto tem muitos dos desafios dos grandes centros urbanos, mas agravados pela necessidade de preservação e manutenção das características originais dos casarios. “Por um lado, há a necessidade constante de resguardar as características arquitetônicas e históricas das casas, para que, no âmbito subjetivo, sejam capazes de assegurar o bem-estar social de suas famílias e, objetivamente, possam contribuir com a manutenção do título de Patrimônio Cultural da Humanidade e, em consequência, o bem-comum da cidade. Por outro, os custos para restaurar e preservar os componentes culturais desses imóveis são extremamente elevados, dada as especificações necessárias”, explica Bel Gurgel, diretora artística do IA – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto.
Nos últimos meses, foram realizadas duas edições da “Oficina de formação em linguagens”, que têm como objetivo abordar conhecimentos relacionados à cultura, à preservação e à memória em contato com as oficinas de restauro. Também foram oferecidos os cursos “Formação em Linguagens da Educação Patrimonial”, voltado para pessoas educadoras e “Agente de Memória e Patrimônio”, voltado para estudantes do primeiro e do segundo ano do ensino médio de escolas públicas e privadas de Ouro Preto e região.
O ciclo “Oficinas Conhecendo Ofícios”, trouxe temas como “Pintura à base de cal: pequeno manual para a conservação”, “Instalações complementares (elétrica e hidráulica)”, “Argamassas tradicionais à base de cal”, “Paredes – estrutura de pau a pique”, “Carpintaria de acabamentos de forro e piso de construções coloniais”, “Carpintaria: telhados”, dentre outras para profissionais da área de construção.
As oficinas contam com aporte pedagógico de carpinteiros, pedreiros, pintores e instaladores que atuam na área dos ofícios tradicionais, além de tecnólogos, pesquisadores e professores – os dois últimos, por meio de parceria firmada com o curso de Conservação e Restauração de Bens Imóveis do IFMG – Campus Ouro Preto, direcionadas a discentes da instituição, profissionais da construção civil em busca de qualificação e interessados.
O programa conta ainda com apoio técnico e legislativo do escritório do IPHAN, em Ouro Preto. Aliado ao valor cultural das casas, o BomSerá amplia o senso de cidadania das famílias participantes, reforçando o sentido de lar a suas casas, através de reformas e promovendo sensibilização sobre preservação e os aspectos históricos da cidade. É um projeto proposto para colaborar com a preservação de imóveis tombados, numa ação que reforça autonomia e pertencimento da comunidade sobre seu próprio patrimônio.
O nome do projeto faz referência a um dos conjuntos que fazem parte das obras emergenciais integrantes do levantamento do IFMG – Instituto Federal de Minas Gerais. Bom-será ou Bomserá é uma construção típica do século XVIII, presente nas cidades históricas que fizeram parte do Ciclo do Ouro, em Minas Gerais (Ouro Preto, Mariana, Sabará e Caeté). Trata-se de edificações de grande valor histórico, cuja principal característica é o uso de “parede-e-meia”. Essas construções foram edificadas encostadas, umas nas outras, a partir de uma única estrutura, divididas em várias residências. Diz a tradição, que nesses conjuntos, onde uma edificação sustentava a outra, famílias viviam misturadas. Que do desejo de uma convivência harmoniosa surgiu a saudação Bomserá.
“BOMSERÁ” tem apoio do Ministério do Turismo, Instituto Cultural Vale e o IA – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto como gestor. Foram investidos R$1.400.000,00 neste Projeto.
Sobre o IA – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto
O IA – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto tem por sua natureza fomentar o encontro e intercâmbio entre a população de Ouro Preto, artistas e artesãos locais e agentes do campo da arte de outras regiões. O embate entre tradição (representada pelo esplendor barroco da cidade patrimônio cultural da humanidade) e a contemporaneidade (com foco no caráter efêmero da arte contemporânea) constitui a essência do IA, a partir de quatro pilares principais: a troca entre diferentes atores sociais, o diálogo entre linguagens artísticas distintas e entre o passado, o presente e o futuro, a desconstrução do status quo que subjuga a arte ao mercado e a tendências regidas pelo mercado e a descolonização, como forma de se criar e produzir arte contemporânea, a partir da reverência, reconhecimento e legitimação de epistemis e práticas culturais, sociais e políticas da América Latina e do Brasil, especificamente.
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