O Glorioso, o Gigante da Colina e o Maior de Minas disputam a Série B. No caso, respectivamente, o Botafogo, o Vasco e o Cruzeiro, que em passado nem tão distante assim eram tidos como “grandes” no futebol brasileiro. Aliás, eram ou ainda são? Que critérios devemos levar em consideração para definir se um clube, atualmente, é ou não grande?
Faz tempo que o futebol brasileiro se divide entre clubes grandes e pequenos. Você lembra de algum que já tenha sido chamado de médio? Pois é. Alguns dos pequenos, ou “de menor investimento”, já nem existem mais. E também já vimos certos grandes passarem por momentos delicados no campo, perderem torcida e reduzirem investimentos. Ainda assim se acham grandes, mesmo vendo o crescimento de rivais, que saem de uma bolha regional para uma amplitude nacional, inclusive na conquista de títulos até mesmo continentais.
Afinal, quem é grande no futebol brasileiro? Faz dois anos que levantei essa questão, aqui nesse mesmo espaço, e o consultor Cesar Grafietti reconheceu, em 2019, que Flamengo e Palmeiras estavam alguns patamares acima dos demais. Por motivos distintos, mas que estavam dando resultado. E de lá pra cá, o que mudou nesse cenário?
Bem, nos dois últimos anos o Flamengo ganhou dois campeonatos brasileiros, duas Supercopas e uma Copa Libertadores. O Palmeiras ganhou uma Libertadores e uma Copa do Brasil, a outra, desse período, ficou com o Athletico-PR, um dos que romperam a bolha regional para se tornar um ativo participante nas competições nacionais.
O Furacão, então, é um grande no futebol brasileiro? Ou, no momento atual, essa denominação deve ser aplicada ao Atlético-MG, que não ganhou título algum, mas esse ano briga, como favorito, no Brasileirão, na Copa do Brasil e na Libertadores? Apesar de ter uma dívida superior a R$ 1 bilhão, o Galo é um dos grandes do futebol brasileiro.
Até que ponto o tamanho da torcida, os títulos do passado e a tradição devem ser considerados nesse critério de avaliação, para um clube ser considerado grande? É justo colocar numa mesma prateleira de grandeza os três times que brigam pelas principais competições nacionais com os que, atualmente, estão na Série B? Eles integram a conhecida lista dos 12 grandes do futebol brasileiro, por tantos anos difundida.
Ou será que devemos considerar a ambição de um time, em determinada competição, para chamá-lo de grande, médio ou pequeno? Quem se satisfaz com uma vaga na Copa Libertadores é grande? A busca por vaga na Copa Sul-Americana é dos médios? Fugir do rebaixamento é pensamento para os pequenos? O Grêmio está nessa situação, no momento, no Brasileirão. O Imortal, do Rio Grande do Sul.
Acho que essa pergunta não terá uma resposta definitiva, porque, se os economistas do esporte têm suas definições, os torcedores têm no coração outra bem diferente. Até porque, daqui a alguns anos, essa balança pode pender de forma muito diferente. Ou já se esqueceu que o Cruzeiro ganhou nesse século três Brasileiros e três Copas do Brasil?
Talvez aqui esteja uma resposta convincente: a boa administração resolve. Como disse Grafietti, o clube precisa saber onde pode ir, no que pode investir e em que competição vale a pena lutar. Se todos fizerem o dever de casa, o crescimento será comum. Resta saber quantos verdadeiramente grandes o mercado do futebol brasileiro suporta.
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.
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